quarta-feira, agosto 16

Serra, a educação e a delinqüência jornalística.

O que foi que o tucano José Serra disse de tão escandaloso em entrevista à Globo?

Que o forte movimento migratório que continua a existir rumo a São Paulo cria dificuldades adicionais para a educação.

E não cria?

E não só para a educação: para a moradia, transportes, saneamento, preservação ambiental, saúde... Sempre que a população de um determinado local cresce mais do que a expansão da economia é capaz de absorver, estamos diante de graves problemas. É uma questão de economia política.

Mas a delinqüência intelectual que tomou conta de parte do jornalismo transformou uma obviedade num caso de preconceito, como se ele estivesse acusando os imigrantes pelas dificuldades do ensino.

Por acaso propôs algum mecanismo contra a imigração?

Sugeriu, a exemplo dos stalinistas amigos do PT, a criação de passes internos?

Escandalosa é essa exploração vagabunda de uma entrevista, distorcendo o seu sentido só para garantir o tal equilíbrio no noticiário. Estamos chegando ao ponto em que se busca ser isento às custas da honra alheia.

É um troço detestável.

Gilberto Dimenstein, que recebeu um diploma conferido pelo próprio Deus para falar em nome da educação — ele parece encarná-la, é seu dono, privatizou-a —, colabora com a farsa escrevendo um textinho infame cujo título é “Serra foi preconceituoso?”

Ao escrever, diz que não. E pondera:

“É certo que quanto mais pessoas pobres, migrantes ou não, entrem no sistema de ensino, maiores dificuldades para as escolas públicas”. Foi o que disse o candidato a governador. Mas depois emenda Dimenstein: “A afirmação de Serra só demonstra que ele deveria estudar mais sobre educação antes de emitir esse tipo de opinião.”

É mesmo? Por quê? Ele não diz. Claro, sua intenção é avançar na crítica ao tucano:

“Sua proposta mais ousada (colocar duas professoras por sala) é apenas um detalhe, que ele vende como uma grande solução. Não é uma idéia ruim, mas é apenas um detalhe. Do jeito como é apresentada, tem ares de lance mercadológico.”

Quando foi que Serra disse que essa era a solução definitiva para a questão da qualidade do ensino?

É claro que a definitiva é Gilberto Dimenstein quem tem. Vamos pegar toda a verba do ensino público no Estado e entregar ao Projeto Aprendiz, para que esse demiurgo nos ensine como é que se faz. Juntando-se às muitas empresas privadas que o financiam, certamente teremos uma escola pautada pela excelência.

Olhem aqui: há coisas que passam da minha cota de tolerância. Para demonstrar que só se identifica com os advérbios, o jornalista critica também a tese de seu parente, Mercadante, que é contra a progressão continuada. Pois é... Deveria tentar convencê-lo num almoço de domingo...

Isso não é nem jornalismo nem campanha eleitoral: é golpe sujo.

E como tal tem de ser tratado. E, se ninguém chama as coisas pelo nome, chamo eu.

Passem adiante esta nota. Não permitam que a delinqüência prospere. Reinaldo Azevedo