quarta-feira, novembro 2

Um espectro ronda a eleição presidencial de 2006.

Comentaristas políticos e petistas (ou seriam comentaristas petistas?), volta e meia ameaçam a nação com o risco de uma saída populista, que poderia acontecer em dois possíveis desdobramentos da atual crise política e do acirramento da disputa entre governo e oposição. Uma das possibilidades seria o próprio Lula partir para o confronto procurando mobilizar as massas contra seus adversários (a la Hugo Chávez). A outra possibilidade adviria do risco de vitória de um candidato irresponsável, escolhido pelos eleitores em sinal de protesto e rejeição à guerra de bugios travada entre o PT, por um lado, e o PSDB e o PFL, por outro.

Não vejo viabilidade em nenhuma das duas hipóteses. Já tive oportunidade, aqui nesse espaço, de analisar a inviabilidade de uma saída chavista para Lula. Na Venezuela, Chávez chegou ao poder depois de uma tentativa fracassada de golpe de Estado que, se não deu certo como tal, serviu para erigi-lo à condição de líder popular em rebelião contra elites conservadoras e corruptas, tal como está para acontecer com Evo Morales na Bolívia.No Brasil o cenário é bem diferente.

Primeiro porque o populismo só é viável em sociedades nas quais não há mediação institucional entre governantes e governados. Nosso país ainda tem um longo caminho a trilhar na consolidação da democracia, mas essa etapa do processo já superamos, diferentemente da Bolívia e da Venezuela. Segundo, porque, no Brasil, ao contrário do que acontece na Bolívia e na Venezuela com Morales e Chávez, Lula é visto pela maioria da sociedade como parte das elites conservadoras e corruptas. Sua eleição representou a expressão do sentimento da sociedade que queria um governo honesto e que resolvesse os problemas sociais que o PT sempre prometeu fazer. Lula traiu esse sentimento e isso é percebido pelos segmentos majoritários do eleitorado que não dependem de bolsa-esmola, e que tem mais de dois neurônios entre as orelhas.

Mobilizar multidões para combater elites conservadoras e corruptas é uma coisa. Tentar mobilizar multidões para defender um governo corrupto é outra bem diferente.

Aliás, se Lula precisava de um laboratório para testar esse tipo de sandice, o recém concluído referendo sobre o comércio de armas e munições deveria ser-lhe mais do que suficiente para que sequer blefasse com esse tipo de discurso. Se tentar conflagrar o país, o que Lula irá colher não será apenas um NÃO nas urnas eletrônicas, mas nas ruas.A outra possibilidade de o populismo vingar seria através da eleição de um aventureiro em 2006.

A alternativa disponível nesse momento chama-se Garotinho. A viabilidade eleitoral de uma terceira via existe e precisa ser levada a sério por analistas, estrategistas e operadores do jogo do poder no país. Mas vou me reservar o direito de explorar esse tema em outro artigo. Agora, pretendo apenas questionar a viabilidade de uma alternativa populista emergir como candidatura capaz de crescer entre a polarização PT/PSDB.E o que me leva a crer ser pouco ou nada viável uma alternativa desse tipo? Em parte, feeling de analista. Em parte, o comportamento do eleitor brasileiro no referendo sobre o comércio de armas e munições. A observação atenta da dinâmica do debate público que se estabeleceu em torno do referendo parece revelar novidades sobre como o eleitor está observado a cena política.

Vejamos. Antes do início da propaganda gratuita do referendo na mídia tínhamos uma situação de desinformação da opinião pública e de monopólio midiático da campanha pró-SIM. Com o início da propaganda das frentes na mídia, as condições de disputa se equilibraram e o debate se estabeleceu. Apesar do curto tempo de campanha (cerca de 20 dias creio), a sociedade brasileira revelou interesse e atenção à discussão travada pelas frentes na propaganda gratuita; na imprensa; nas salas de aula e nas ruas.

Assistimos a um debate de altíssima qualidade, adequado ao possível conforme o espaço, o veículo e o ambiente em que era travada a discussão. Artigos brilhantes de intelectuais e articulistas da imprensa foram publicados e uma carga enorme de informações novas foi disponibilizada aos eleitores.

A virada a favor do voto NÃO é um indicador importante da atenção que os leitores dispensaram ao debate e da absorção dos argumentos em disputa. Talvez tenhamos aí, também, um indicador do grau qualificado de atenção e exigência que o eleitor dedicará à escolha dos nossos próximos governantes.

Se minha sensibilidade não me trai, acredito que a honestidade e a idoneidade moral dos candidatos; a experiência administrativa comprovada e as propostas consistentes que eles terão que apresentar para o futuro da economia e da segurança pública, principalmente, mas também para a educação, a saúde e as políticas sociais, pesarão mais para tirar da disputa aventureiros populistas, do que para viabilizar alternativas eleitorais com discurso fácil e perfil irresponsável, típico das lideranças populistas. A conferir. Paulo G. M. de Moura

É a velha tática petista para controlar a população impondo nos o medo. Já usada, gasta, manjada, como diz no comercial: Ai que meda!