quarta-feira, novembro 9

Suspeitos apelam a ministros

Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta se afastar do escândalo do mensalão, os petistas ameaçados de cassação empurram o primeiro escalão do governo para o olho do furacão da crise política. Alvos de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara, os deputados João Magno (PT-MG) e José Mentor (PT-SP) arrolaram como testemunhas de defesa ministros com assento cativo no Palácio do Planalto.


Alvos de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara, os deputados João Magno (PT-MG) e José Mentor (PT-SP) arrolaram como testemunhas de defesa ministros com assento cativo no Palácio do Planalto.
Magno, acusado de receber R$ 250 mil do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pelo esquema de Marcos Valério, escalou para sua tropa de choque os ministros do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, das Comunicações, Hélio Costa, e o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos Nilmário Miranda.

Mentor, que recebeu R$ 120 mil do chamado valerioduto, foi ainda mais seletivo. Para livrá-lo da cassação por quebra de decoro em plenário, o parlamentar petista escolheu para fazer sua defesa ministros do porte de Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. O petista, ex-relator da CPI do Banestado, incluiu ainda na lista o ex-presidente da OAB, Rubens Approbatto Machado.

Entre os petistas, os deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Professor Luizinho (PT-SP) foram os únicos que não arrolaram nenhuma testemunha na defesa protocolada na última semana no Conselho de Ética.

– Não estamos só trabalhando a questão da denúncia em si, queremos destacar a trajetória política do deputado para comprovar que seria impossível sua suposta participação no esquema do mensalão – afirmou o advogado de João Magno, Wellington Alves Valente.

Segundo Wellington, todos os citados, com exceção do tesoureiro da campanha de Magno à prefeitura de Ipatinga (MG), Paulo Vieira Albrigo, teriam se prontificado a comparecer ao conselho a fim de sublinhar o caráter ético do seu cliente. O ex-ministro Nilmário Miranda, por exemplo, como foi coordenador de campanha do PT em Minas, poderia apontar o comportamento de João Magno durante as eleições.

No caso do ministro Patrus Ananias, os argumentos seriam semelhantes. João Magno cultiva uma relação muito próxima a ele, e segundo a defesa, Ananias poderia ressaltar entre os membros do Conselho “os trabalhos sociais desenvolvidos” pelo petista. Hélio Costa teria uma dívida solidária com João Magno. Costa quando se candidatou ao governo de Minas teria contado com o apoio incondicional do petista, o que lhe rendeu apoios e votos.

Mentor, por sua vez, disse ter escolhido ministros do calibre de Thomaz Bastos e Henrique Meirelles porque seriam pessoas “capazes de comprovar a verdade”.

– Só quero que eles venham até aqui para confirmar que os comuniquei de tudo – disse o deputado. Quando relator da CPI do Banestado, acrescentou o petista, “o doutor Meirelles e o Palocci (Ministro da Fazenda) acompanharam todo o processo em relação ao Banco Rural”. O petista negou que tivesse a intenção de expor o governo federal tanto que “não sentiu qualquer impedimento por parte das testemunhas”. Já a importância da presença de Thomaz Bastos seria em função de sua participação nas investigações sobre doleiros e ainda no acompanhamento dos trabalhos da CPI do Banestado. Os petistas cumprem, na verdade, semelhante trajetória percorrida pelo deputado José Dirceu que, no último mês, indicou como testemunhas de defesa pesos pesados do PT e governo como o atual presidente da Câmara e ex-ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, o líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), o ex-presidente do PT José Genoino, o deputado e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB-PE).

Na ocasião, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, hoje testemunha de José Mentor , também havia sido escalado para defender Dirceu. Enviou seu depoimento por escrito. A exemplo de Dirceu, os petistas apostam na linha de defesa eminentemente jurídica para escapar da cassação.

Na contra-mão de Mentor e João Magno, os deputados Professor Luizinho (PT-SP) e Josias Gomes (PT-BA), igualmente ameaçados de cassação, preferiram a discrição na hora de apontar nomes capazes de defendê-los perante ao Conselho de Ética. Josias apostou em integrantes de seu comitê de campanha. Luizinho considerou suficientes os depoimentos prestados da CPI dos Correios.

– É desnecessário expor um ministro, sobretudo quando se é do mesmo partido – pondera Márcio Silva, advogado dos dois petistas que receberam dinheiro das contas de Marcos Valério.
JB Online

A cúpula da Máfia vai servir de testemunha de defesa, que coisa mais louca!