segunda-feira, outubro 24

Pela limpeza do Supremo

“Já que o mundo fez de mim uma prostituta, irei transformar o mundo num grande bordel”
*Clara Zachanassian,in “A visita da velha senhora”,de Friederich Dürrenmatt

O político Nélson Jobim foi quem começou essa história nada edificante.
Foi ele, foi ele, sim, quem primeiro rasgou a toga e deixou à mostra as intimidades que ninguém queria ver: envolvimento político, clara advocacia de interesses, cabala de votos, intromissão nos outros poderes, partidarização de suas atividades, votos estarrecedores, concessões de hábeas-corpus a Delúbio Soares e Marcos Valério, afrontas constantes à cidadania.
Caiu de majestade o ex-sócio de Eliseu Padilha, amigo de José Serra e de José Dirceu, aliado de FHC e do cumpanheiro Lulla, candidato a cargo eletivo nas próximas eleições, a mais controvertida e polêmica figura que já passou pelo STF.

Agora o mineiro Carlos Mário Velloso, uma das melhores figuras do STF, um brasileiro da melhor qualidade, resolve nos escandalizar com decisão absolutamente ilegal. Pisoteando norma do próprio tribunal ao qual pertence, não dando bola para a Súmula Vinculante, desconhecendo o histórico do processo que levou Paulo e Flávio Maluf ao xilindró, o ministro resolveu mostrar o seu lado paternal, de mineiro afetuoso e, penalizado, ressaltou o sofrimento de um pai que divide uma cela precária com o próprio filho. Humanista de fancaria, como se vivesse em outro país ou habitasse planeta distante, nos confins da Via Láctea, o conspícuo magistrado soltou a dupla de larápios que desviou dos cofres públicos de São Paulo um montante que pode passar de US$ 1 bilhão.

Concedeu, com a caridade de uma Irmã Dulce e a superioridade de um Mahatma Gandhi, a liberdade a dois ladrões que roubaram milhares de salas de aula que não foram construídas, centenas de quilômetros de ruas e avenidas que não foram pavimentadas, incontáveis leitos, postos de saúde ou hospitais que não saíram das pranchetas, milhares de toneladas de merenda escolar que não mataram a fome de estudantes carentes, de salários de professores e servidores municipais que não foram pagos, de milhares de empregos que não foram gerados.

A piedade cristã desse magistrado respeitável assegurou a liberdade a dois sujeitos cuja honradez corresponde a quatro toneladas de documentos incriminatórios enviados pela justiça da Suíça ao Ministério Público de São Paulo. Os nobres sentimentos do ministro Velloso não podem se sobrepor às 600 horas de gravações telefônicas, ordenadas pela própria justiça e realizadas pela Polícia Federal, onde pai e filho protagonizam diálogos que fariam Al Capone e seus lugar-tenentes corarem de sincero pejo.

Leia o artigo todo no blog do Ruy Nogueira:
http://www.ruynogueira.blogspot.com
Muito bom.